VIA SATÉLITE: Boletim Informativo do CNPM, Campinas, v. 15, n. 01, Março 2007.


Estudo da Embrapa Monitoramento por Satélite mostra que o Brasil é um dos países que mais conservou suas florestas

O Brasil é o país que menos desmatou suas florestas no mundo. Esta é a principal conclusão de um estudo encomendado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para a Embrapa Monitoramento por Satélite e amplamente divulgado pela imprensa no início do ano. Há 8 mil anos, antes da expansão demográfica e tecnológica, quando havia 64 milhões de quilômetros quadrados de florestas, o Brasil detinha 9,8% das florestas mundiais. Hoje, sobraram 15,5 milhões de quilômetros quadrados. Mais de 75% das florestas mundiais já desapareceram e, do pouco que restou, o Brasil responde sozinho por 28,3% do total. O trabalho pode ser acessado através do endereço eletrônico http://www.desmatamento.cnpm.embrapa.br .

O estudo da Embrapa Monitoramento por Satélite relaciona estes dados com os de outras regiões. De acordo com o levantamento, a Europa, sem a Rússia, detinha mais de 7% das florestas do planeta e hoje tem apenas 0,1%. A África possuía quase 11% e agora tem 3,4%. A Ásia já deteve quase um quarto das florestas mundiais, 23,6%, agora possui 5,5% e segue desmatando. No sentido inverso, a América do Sul, que detinha 18,2% das florestas, agora tem 41,4% e o grande responsável por esses remanescentes é o Brasil.

O Chefe Geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo de Miranda, é um dos autores do estudo ao lado de pesquisadores da Unidade e do então Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luiz Carlos Guedes Pinto. Miranda ressalta que esta tendência não está encerrada no passado e que, se o desflorestamento mundial prosseguir no ritmo atual, o Brasil deverá deter no futuro quase metade das florestas primárias do planeta. O paradoxo, como vem declarando Guedes, é que, "ao invés de ser reconhecido pelo seu histórico de manutenção da cobertura florestal, o país vem sendo severamente criticado pelos campeões do desmatamento e alijado da própria memória".

O levantamento mostra que, apesar do desmatamento dos últimos 30 anos, o Brasil é um dos países que mais mantém sua cobertura florestal, com 69,4% de suas florestas primitivas. Dos 100% de suas florestas originais, a África mantém hoje 7,8%, a Ásia 5,6%, a América Central 9,7% e a Europa apenas 0,3%. A América do Sul mantém 54,8% de suas florestas originais. "Embora deva-se mencionar o esforço de reflorestar, não é possível ignorar que 99,7% das florestas primárias européias foram substituídas por cidades, cultivos e plantações comerciais", completa Evaristo de Miranda.

As pesquisadoras da Embrapa Monitoramento por Satélite, Cristina Criscuolo, da área de geoprocessamento, e Cristina Rodrigues, especializada em biologia vegetal, foram responsáveis por uma ampla revisão bibliográfica para o levantamento das bases de dados existentes sobre florestas de todos os continentes. Os resultados preliminares já começam a ser divulgados e os dados estão sendo georreferenciados, utilizando imagens de satélite. "A partir deste trabalho, é possível fazer o mapeamento dos remanescentes, possibilitando levantar estimativas das florestas primárias no mundo", explica Cristina Rodrigues.

Evaristo de Miranda destaca que, como parte deste estudo, seria possível fazer um cálculo do que representou, em termos de efeito estufa, a emissão de gases provocada por este desmatamento mundial. "Ninguém manteve suas florestas como o Brasil e mesmo assim o país é muito cobrado". Para ele, o fato do Brasil ter mantido boa parte de suas florestas, se comparado a outros países, não justifica a derrubada deliberada de nenhuma árvore. "Não é dizer que se eles destruíram suas florestas nós também podemos fazer igual, mas enquanto eles cobram que o Brasil proteja suas florestas nós também devemos cobrar que eles recomponham as florestas que eles destruíram", completa Miranda.

 

Agricultura e preservação ambiental de mãos dadas

"Aqui, como na Europa, as florestas cederam lugar à agricultura moderna e competitiva, à pecuária, às florestas plantadas e às cidades. O Brasil é um líder agrícola mundial". Para Evaristo de Miranda, não se pode ter uma solução generalizada para a preservação das florestas do Brasil. "Além da diversidade de ecossistemas, nós temos realidades socioeconômicas muito diferentes", pondera. Para ele o mecanismo de preservação deveria se inspirar no que foi feito nos séculos XVI, XVII, XVIII, quando o uso da floresta para exploração racional do pau-brasil, por exemplo, foi o que manteve a floresta, pelo menos até o final do século XIX. "Além disso, é clara a necessidade de ter unidades de conservação estritas, como o Brasil vem fazendo na Amazônia com a criação de parques e áreas de conservação", completa Miranda. Segundo ele, a questão da conciliação da preservação com o desenvolvimento econômico do país não é uma coisa que está toda por ser inventada, "nós já temos experiências nisso, dependemos de coordenação e de ter políticas que envolvam a área de produção".

Um ponto, considerado como um grande desafio para o pesquisador, é entender como é possível manter as florestas localizadas em áreas que não são necessariamente reservas florestais. Para Miranda, existem muitos caminhos e o país tem inclusive experiências nesta questão. "Na região de Campinas, por exemplo, nós temos uma pesquisa que mostra que as áreas com florestas, de 30 anos atrás, permanecem ainda hoje. Estão sendo mantidas a partir de uma consciência generalizada", explica.

Outra pesquisa da Embrapa Monitoramento por Satélite, que deve ser publicada em breve, é realizada há mais de 20 anos no município de Machadinho D'Oeste, RO, e constatou que as reservas florestais que estão cercadas por lotes de agricultores vêm sendo mantidas até hoje, pelos próprios produtores. "Existe um enorme campo de trabalho que é o de buscar alternativas de projetos para que, nas áreas rurais, as áreas de florestas sejam preservadas, seja pelo estatuto da Reserva Legal ou por outros", ressalta Miranda.

A modernização da agricultura é outro fator que, para o pesquisador, deve favorecer o meio ambiente. "Onde a soja mecanizada expandiu, no Estado do Mato Grosso, diminuíram as queimadas, tem-se respeitado mais as áreas de preservação permanente e a recomposição de mata ciliar", afirma. Dados de outro projeto, realizado pela Unidade na região de atuação da Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão Preto (ABAG/RP) mostra, por exemplo, que em 15 anos, ao ganhar mais em técnica e produtividade, a agricultura saiu de áreas de preservação permanente e cedeu estas áreas para a recomposição. "Eu acredito que o caminho é modernizar a agricultura brasileira. Uma agricultura moderna, eficiente e com tecnologia, que ganhe produtividade sem sofrer a pressão de ter que expandir sua área".