Agência Estado, 14 de Novembro de 2001

Programa da Embrapa populariza imagens de satélite

A combinação de novas técnicas, softwares de domínio público e programas desenvolvidos na Embrapa Monitoramento por Satélite permitiu disponibilizar, via Internet, imagens reais do Brasil. Todos os estados da Amazônia e do Nordeste já estão on line, com 30 a 60 metros de detalhe, e o resto do país será editado em 2002. A iniciativa garante o acesso de qualquer internauta, gratuitamente, a subprodutos de satélites, que antes eram de uso exclusivo de pesquisadores ou governo, devido ao alto custo e alta demanda de memória eletrônica para armazenagem dos arquivos.

Campinas - A base para a construção de uma nova geografia brasileira, dinâmica e mais próxima da realidade, já está disponível na Internet. Combinando técnicas de compressão de arquivos, softwares de domínio público e programas de sua autoria, o pesquisador Carlos Assis Paniago, da Embrapa Monitoramento por Satélite, conseguiu reduzir os imensos arquivos eletrônicos das imagens de satélite a ponto de torná-los acessíveis em páginas html, comuns na rede. E sem perder detalhes essenciais. Com isso, estão sendo disponibilizados a qualquer internauta, gratuitamente, no site do centro de pesquisa, os mosaicos de imagens de satélite, que compõem os estados brasileiros. Um material de consulta, que antes era de uso exclusivo de pesquisadores ou governo, devido ao alto custo e alta demanda de memória eletrônica para armazenagem dos arquivos. "Um professor de Geografia agora pode se basear numa imagem real e não numa representação, como é um mapa, e com detalhes atuais de cobertura florestal, meandros de rios e outros detalhes deste tipo", comenta Paniago. "Isso só é possível, hoje, porque a evolução da informática permite trabalhar num PC com arquivos que antes só rodavam em workstations. E provavelmente, nos próximos anos, poderemos trabalhar com níveis de detalhes ainda maiores, de 15 metros ou até um metro, como os satélites militares". Todos os estados da Amazônia e Nordeste já podem ser acessados, com possibilidade de zoom até detalhes de 30 a 60 metros, conforme o tamanho do estado (territórios maiores, menos detalhe). Os estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste serão editados no próximo ano. As diferenças mais comuns, em relação aos mapas utilizados no georreferenciamento, são relativas aos rios, ou porque os rios mudaram realmente de curso, ou porque suas curvas são simplificadas na elaboração dos mapas.

A disponibilização da imagem real dos estados, na Internet, depende da elaboração de mosaicos das imagens correspondentes a cada unidade da Federação, um projeto que vem sendo financiado, região por região, com recursos do Ministério da Agricultura, e apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na compra de equipamentos. Os mosaicos da Amazônia custaram cerca de RS$1,5 milhão e do Nordeste R$1,1 milhão. Foram elaborados por uma equipe de 12 pesquisadores e estagiários da Embrapa Monitoramento por Satélite, com a terceirização do georreferenciamento das imagens, feita por empresas aeroespaciais de São José dos Campos.

Vale destacar que, quando se trata de imagens de satélite, fazer um mosaico é muito mais do que colar fotos. As emendas precisam ser corrigidas porque as passagens do satélite não são verticais, mas diagonais, e cada passagem corresponde a um dia diferente, com condições de luz diversas, que precisam ser equalizadas.

Depois de prontos, os mosaicos de cada estado foram sucessivamente comprimidos e degradados, pelas técnicas desenvolvidas por Paniago até poderem ser arquivados num CD, com capacidade para 660 megabytes. O maior arquivo, até agora, foi o do estado da Bahia, cujo original era de quase 6 Gigabytes, reduzido para algo em torno de 300 Kbytes. Os CDs podem ser lidos em qualquer computador (McIntosh, Unix, PC), com ou sem Internet e em qualquer tipo de programa de navegação. Clicando sucessivamente, o usuário pode ir aproximando a imagem até chegar a 30 ou 60 metros de detalhe, o que equivale a distinguir quadrados de 30x30 metros ou 60x60.

Passar de um arquivo de 300Kbytes para 50, de modo a tornar viável o acesso através da Internet e não perder qualidade foi um outro um desafio. "Usei as vantagens de cada tipo de formato de arquivo existente - img, geotif, ppm, jpg e png - para recortar os mosaicos em sucessivas imagens de 500x500 pixels (pontos na tela), permitindo um zoom, que corresponde à divisão de mapas adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)", diz o pesquisador. "Depois usei um programa que gera páginas html com estes formatos e possibilita a navegação". O programa foi desenvolvido por ele durante 2 anos, em sua tese de mestrado na Ciência da Computação da Universidade de São Paulo (USP), campus São Carlos. Traduzindo para internautas comuns, tudo isso quer dizer que cada quadradinho de imagem visto na tela equivale a um mapa do IBGE, com escalas variando de 1:25000 a 1:250000, de modo que o usuário pode se localizar através de coordenadas ou marcos geográficos, como rios, montanhas, etc. "Levando-se em consideração, sempre, que as cores das imagens de satélite são falsas e não correspondem exatamente ao que se vê numa foto", adverte Paniago. Ele tomou o cuidado, nos sucessivos recortes, de fazer uma sobreposição, de modo que nenhuma propriedade ou cidade ficasse cortada ao meio. Ou seja, se a área que se quer ver está cortada num quadradinho, basta navegar para o seguinte e a área deverá aparecer inteira.

As explicações sobre a elaboração dos mosaicos e instruções para navegação e localização de áreas específicas estão no site da Embrapa, junto com as imagens reais dos 17 estados brasileiros já prontos. Também existe um arquivo com as perguntas mais freqüentes (FAQ) e respectivas respostas, sendo que a pergunta mais comum, de acordo com Paniago é: "quando vai ficar pronto o meu estado?"

Liana John


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