Antecedentes e Justificativas


Dinâmica espacial e temporal do uso das terras no Brasil

País de dimensões continentais e transhemisféricas, o Brasil enfrenta como nenhum outro, desafios relativos à ocupação, uso e manejo do seu imenso e diversificado espaço. Ao contrário de outras nações de superfície equivalente, a questão se agrava em nosso país devido aos extensos territórios inabitados, aos intensos contrastes sócio-econômicos e agroecológicos entre as regiões geográficas, à dinâmica acelerada do uso das terras, ao avanço da fronteira agrícola, às deficiências na infra-estrutura de transportes e comunicação e à carência de recursos humanos adequadamente preparados educacionalmente.

Todas estas problemáticas compõem um cenário de grande complexidade a ser gerenciado pelo planejamento territorial no Brasil, onde o elenco de alternativas, eventualmente possíveis, de ocupação e uso é muito variado. Esta pluralidade de atividades antrópicas é amplificada pelas distintas configurações dos sistemas de produção adotadas, traduzindo-se em diferentes níveis de sustentabilidade e, em grande parte das situações, em muitos impactos sociais, econômicos e ambientais.

As atividades agrossilvopastoris são responsáveis em mais de 90% pela ocupação das terras. São praticadas diversas culturas desde a escala da subsistência, passando pelas pequenas e médias organizações rurais, até as grandes empresas agro-industriais. Deste modo, produz-se itens importantes da agroeconomia nacional como cereais, leguminosas, oleaginosas, carne, leite e derivados, hortigranjeiros, madeira, frutas, fibras, bebidas, princípios ativos, combustíveis, insumos industriais, etc. Nos últimos anos a produção agrícola tem aumentado substancialmente graças aos ganhos na produtividade e, principalmente, pela expansão da área cultivada. Esta expansão tem sido acompanhada de consideráveis impactos ambientais negativos. Porém, há profundas idiossincrazias regionais, particularizando cada situação e constituindo uma ampla gama de desafios técnico-científicos. O sensoriamento remoto representa hoje um dos principais instrumentos para o monitoramento de uma realidade tão ampla e dinâmica. Através do Centro Nacional de Pesquisa de Monitoramento por Satélite CNPM, conhecido como Embrapa Monitoramento por Satélite, a pesquisa agropecuária brasileira emprega os mais modernos e sofisticados instrumentos para garantir um conhecimento circunstanciado do uso das terras no Brasil, de sua dinâmica espaço-temporal e de seus impactos ambientais.


Aplicações do sensoriamento remoto em agricultura e meio ambiente

A incidência, a absorção, a reflexão, a emissão de ondas eletromagnéticas pela superfície terrestre e a interpretação de seus padrões de reflectância constitui o âmbito das atividades de sensoriamento remoto na Embrapa Monitoramento por Satélite, com aplicações diversas para diversas disciplinas da ciência e atividades humanas, entre as quais muitas relacionadas à agricultura e à ecologia. Porém, é no domínio da luz visível, do infravermelho próximo, distante e termal, e atualmente na faixa de microondas radar que se concentra parte essencial das aplicações das pesquisas espaciais para fins agroecológicos.

Partindo-se do princípio de que corpos e materiais diferentes possuem distintos comportamentos de absorção, reflexão e de emissão dos diferentes trechos do espectro eletromagnético, entre os quais a luz visível constitui uma estreita faixa, podemos então identificar e mapear estes elementos da superfície terrestre. Assim como um campo cultivado, no início de germinação, possui um aspecto diverso da mesma cultura já em estado de maturação, e que um plantio sadio se distingue de um outro submetido a algum tipo de estresse ou restrição fisiológica, é possível detectar e identificar essas mudanças através do sensoriamento remoto.

Inicialmente concebidos sobretudo para fins militares e de auxílio na localização de jazidas minerais, os processos de imageamento da terra foram se voltando progressivamente já na década de 70, para fins civis, muitos ligados à agricultura e ao meio ambiente. Hoje em dia, assumindo uma série de funções anteriormente atendidas pela aerofotogrametria, sem contudo substituí-la nos trabalhos com grande precisão de detalhes geométricos, o sensoriamento remoto multiespectral apresenta uma série de vantagens:

  • Baixo custo por área específica:
  • O apelo aos meios de sensoriamento remoto reduz o custo dos levantamentos de campo e aumenta sua precisão, sendo que o preço por km2 das imagens orbitais é bastante inferior ao de fotografias aéreas.

  • Aspecto diacrônico da captação das imagens:
  • A alta freqüência de repetitividade possibilita várias tomadas de imagens ao longo de um mesmo ano, o que era praticamente impossível, devido ao alto custo e à demora na execução de missões de recobrimento aerofotogramétrico.

  • Aspecto sincrônico da captação das imagens:
  • Uma mesma região é imageada de forma praticamente instantânea, possibilitando uma visualização ampla e completa do estado de superfície em um dado momento, facilitando comparações e inferências.

  • Aspecto multiespectral das imagens:
  • O campo de detecção de ondas eletromagnéticas vai muito além das possibilidades da visão humana e dos sistemas fotográficos mais complexos, tornado formas e nuances praticamente imperceptíveis discerníveis em imagens orbitais.

  • Caráter digital dos dados adquiridos:
  • Apesar de freqüentemente divulgadas sob a forma bastante simplificada e condensada de reproduções fotográficas, os dados produzidos por processos de imageamento orbital são gerados e armazenados sob a forma digital.

  • Facilidade de integração com bases de dados geocodificadas:
  • A possibilidade de combinação e cruzamento com outros dados georreferenciados conferida pela natureza digital da informação coletada pelos sensores remotos facilita a sua manipulação em conjunto com outros dados, de natureza cartográfica ou numérica.


Pesquisas espaciais e agricultura nacional

Uma política agrícola, assentada sobre bases realísticas, deve equacionar os dilemas apresentados por um setor primário tão heterogêneo contraposto a um mercado mundial em permanente e acelerada evolução. A rápida integração atual dos blocos econômicos requer uma visão ampla dos problemas que ocorrem no Brasil e no exterior. Desta forma, torna-se urgente evitar o processo atual de intensificação da concentração da riqueza típico do Brasil e seus conseqüentes e terríveis problemas sociais, promovendo um desenvolvimento das comunidades ligadas direta ou indiretamente ao campo, atendendo os princípios da sustentabilidade e da conservação dos recursos naturais.

Lidar com este amplo e extremamente dinâmico cenário de problemas do meio rural brasileiro exige da Embrapa e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ações integradoras de aspectos culturais, sócio-econômicos, agronômicos e ecológicos, inseridas em um esforço para desenvolver, aplicar e avaliar soluções técnicas capazes de apoiar o processo de decisão com parâmetros objetivos, passíveis de verificação e inferência. Sem este tipo de subsídio é impossível elaborar planos de desenvolvimento rural onde o aumento da produtividade seja sustentável e compatível com a exploração racional e a conservação dos recursos naturais.

Promover um ordenamento do setor adequado e compatível com esta realidade multifacetada e intrincada exige uma abordagem espacial das diferentes variáveis envolvidas, associando-se intrinsecamente a ciência da informação geográfica. Hoje a Embrapa Monitoramento por Satélite adotou um ambiente de integração, manipulação e expressão de dados definido pelo conjunto de instrumentos e técnicas desta disciplina e pode conferir grande agilidade e precisão à articulação da análise do uso das terras com a dos sistemas de produção agrossilvopastoris. O desenvolvimento, a aplicação experimental e a consolidação destes métodos de pesquisa espacial pela Embrapa Monitoramento por Satélite têm se constituído globalmente em um apoio importante à gestão de um espaço rural diversificado em suas características ecológicas, em seus usos antrópicos e em sua estrutura fundiária.

 


Mosaicos de imagens de satélite

Há anos, os trabalhos realizados pela Embrapa Monitoramento por Satélite dedicam-se a produção e interpretação de imagens orbitais, de variados satélites e sistemas de monitoramento. Nem sempre a sociedade tem acesso direto as imagens pois o interesse maior está nos produtos derivados: mapas temáticos, bancos de dados, análises espaciais, estatísticas agrícolas etc.

O desenvolvimento das tecnologias de geoprocessamento e de informação permitiram a consolidação de métodos para aquisição, tratamento e consulta de conjuntos de dados orbitais de forma simples, a partir de instrumentos oferecidos pelo advento da Internet. Entretanto o país não dispõe de um acesso simples a grandes conjuntos de imagens orbitais de grande resolução espacial e temporal. A disponibilidade dessas informações contribuiria para a ampliação do mercado de observação da Terra em nosso país e para uma utilização mais racional e sustentável das terras, ampliando a comunidade dos usuários de tais informações para fora dos limites dos especialistas e técnicos.

O desafio colocado à Embrapa Monitoramento por Satélite foi o de elaborar mosaicos homogêneos de imagens multitemporais do satélite Landsat, para a totalidade dos estados da federação, começando pela Amazônia. Esses mosaicos serviriam para apoiar as mais diversas iniciativas de pesquisa, planejamento territorial, desenvolvimento econômico e preservação ambiental nesses locais.

Esta iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento visava colocar definitivamente à disposição de amplos setores da sociedade informações espaciais de qualidade, sobre os estados brasileiros, cuja aplicação e utilização pode ser a mais variada possível. Ao mesmo tempo, a equipe de pesquisa ficaria a disposição dos usuários para produzir e fornecer produtos e serviços mais específicos, a partir de demandas geradas pelo uso dos mosaicos de imagens.

Com o apoio da diretoria da empresa, a equipe da Embrapa Monitoramento por Satélite deu início a esse empreendimento científico e tecnológico.


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